"Celebram-se" hoje 31 anos desde a morte de Mao Tse-Tung, maior impulsionador República Popular da China.
"No que nos diz respeito, quer se trate de um indivíduo, um partido, um exército ou uma escola, julgo que a ausência de ataques do inimigo contra nós é má, porque significa, necessariamente que fazemos causa comum com o inimigo. Se somos atacados pelo inimigo, é bom, porque isto prova que traçamos uma linha de demarcação bem nítida, entre o inimigo e nós. E se ele nos ataca com violência, pintando-nos nas cores negras e denegrindo tudo quanto fazemos, melhor, porque isto prova não só que estabelecemos uma linha de demarcação nítida entre o inimigo e nós, mas ainda que conquistamos êxitos no nosso trabalho."
Mao Zedong in "Ser Atacado pelo Inimigo é uma Boa e não Má Coisa"
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Mao Zedong nasceu, em 26 de Dezembro de 1893, na vila de Shao Shan, província de Hunam, China, onde participou como soldado do exército revolucionário que lutou contra a dinastia Manchu que dominava o país. Com a idade de 27 anos participou, junto com Chen Tu Hsiu e Li Ta Chao, da fundação do Partido Comunista Chinês em Xangai, em Julho de 1921. Dois anos após, no terceiro congresso do partido, foi eleito para o Comité Central.
Em 1927, com a chegada de Chiang Kai Shek ao poder, os comunistas são perseguidos e Mao foge para as montanhas em Jinggang, iniciando um movimento guerrilheiro que durou 22 anos. Em Outubro de 1934, iniciou com 130 mil homens a retirada em direcção ao noroeste da China, um percurso de 12 mil km, ao fim dos quais 100 mil homens haviam morrido. Tal feito ficou conhecido como "A Grande Marcha".
Em 1937 o Japão iniciou uma guerra de agressão contra a China, o que deu motivo para o Partido Comunista Chinês unir-se com as chamadas forças nacionalistas do Kuomintang.
Após a derrota dos japoneses, reinicia-se a guerra civil que acabaria com Chiang Kai Shek derrotado pelos comunistas.
Em Outubro de 1949, a República Popular da China é instalada.
Mao Tsé-Tung permaneceu presidente do partido até 9 de Setembro de 1976, data da sua morte.
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Entrevista a Jung Chang autora do livro "Mao a História Desconhecida":
O subtítulo da sua biografia de Mao Tsé-tung é A história Desconhecida. Pode dar alguns exemplos de revelações contidas nesta sua obra?
Algo que era desconhecido até agora é, por exemplo, a enorme ambição de Mao mal conquista o poder em 1949. Eu não sabia disso e penso que ninguém tinha antes falado sobre isso. Mao Tsé-tung queria dominar o mundo. As pessoas tendem tradicionalmente a pensar que Mao estava preocupado apenas com a China e pouco se importava com o mundo exterior. Na realidade, queria dominar o mundo e todo o seu projecto depois de conquistar a China foi nesse sentido. Foi para alcançar esse seu objectivo que Mao se tornou responsável pela morte de 70 milhões de pessoas em tempo de paz. Uma outra novidade neste livro é o sucedido durante a Longa Marcha, nos anos 30. A minha investigação revela que Chiang Kai-Chek, o líder nacionalista chinês, deixa o Exército Vermelho prosseguir a sua marcha porque quer de volta o seu filho, que estava retido como refém na União Soviética de Estaline. É assim uma espécie de negócio aquilo que permite aos vermelhos sobreviverem. Há pouco de heróico nesta Longa Marcha, tanto mais que para evitar reunir-se com outro comandante comunista, seu rival político, Mao obrigará os guerrilheiros a caminharem mais que o previsto, com dezenas de milhares a morrerem pelo caminho. Tudo para Mao proteger as suas ambições.
O seu livro revela um Mao tirânico, obcecado com o seu poder. Consegue, como biógrafa, encontrar alguns aspectos positivos na personagem?
Mao era completamente imoral. Uma pessoa completamente imoral. Não consigo ver nada de bom nele. Claro, tinha algumas qualidades, sobretudo como político. Era um bom estratego, era capaz de antecipar os acontecimentos e era também um homem com muitas, muitas leituras. Sabe-se que nos seus anos de velhice tinha uma cama enorme meio coberta por livros, de tal modo que podia acordar e de imediato começar a ler. Mas o essencial é que como ditador não autorizava centenas de milhões de chineses a ler.
Como foi possível um homem assim governar durante 27 anos o mais populoso país do mundo? A sua governação contou com a cumplicidade de outras figuras do Partido Comunista Chinês?
Foi o sistema comunista que permitiu a Mao ser Mao. Alguém como Mao Tsé-tung só poderia surgir num sistema totalitário, alheio à vontade do povo, em que só alguns tinham poder efectivo de decisão. Mao conseguia manipular muito bem os seus colegas de partido, homens como Chu En-lai, que foi primeiro-ministro, Liu Chao-chi, que chegou a ser Presidente, e outros. Conseguiu transformá-los em cúmplices da sua governação. E houve sempre gente que ao longo dos 27 anos de Mao como governante esteve disposta a aceitar as suas ordens, a seguir as suas indicações. Mas mesmo os seus colegas mais próximos, dirigentes de grande estatuto, chegaram a atingir em dados momentos o seu ponto de saturação. Existe um ponto além do qual a maioria das pessoas não passa. Poucos aceitarão que matem as suas mulheres. Poucos ou ne-nhuns tolerariam que ponham os seus filhos em perigo. E na história da China Comunista houve dirigentes que atingiram esse ponto de saturação e enfrentaram Mao. Liu Chao-chi, que aceitou cegamente as ordens de Mao durante décadas, atingiu esse ponto durante a Grande Fome, quando milhões de pessoas morreram por causa da desastrosa gestão política do país. E quando Liu Chao-chi pressionou Mao, este tentou manter as suas políticas, resistiu ao máximo, mas acabou por ceder e a partir de 1962 alterou alguns aspectos da sua governação. Chu En-lai atingiu o seu ponto de saturação provavelmente antes, ainda nos anos 50, quando comunicou a Mao que a sua consciência como primeiro-ministro não lhe permitia apoiar o chamado Grande Salto em Frente, que passava pela exportação de comida para o país comprar armamento.
in "Diário de Noticias", 7 de Dezembro de 2005
